segunda-feira, 29 de junho de 2015

tentando discutir a nossa situação atual em meio a todo esse barulho

- são paulo mudou!
- por que só o paulo?
- que felicidade!
- depende da idade...
- tá tudo tão lindo!
- tatu de quem mesmo?
- protesto acabou!
- talvez só pro testo....
- o povo acordou!
- minha cor não dou não
- o espaço ocupou!
- o culpou de que?
- pois hoje tem festa!
- a gi você chama...
- e o passe é livre!
- quem pode, dança...

domingo, 28 de junho de 2015

ainda bem que as 8 da manhã você ainda dorme

acordo meio rogue, sem pudor, kamikaze
caio dos sonhos cheio de coragem
como se o mundo fosse ainda um playground
e a realidade maleável a la minhas vontades

embriagado de sono é tão fácil dizer
que enquanto dormia pensava em você
[e na verdade lembro bem de vê-la passar
tomando cuidado para não tropeçar
nos degraus discretos que construí com o desejo
concreto e palpável, de enchê-la de beijos]
mas minha certeza é areia em ampulheta quebrada
e como a ressaca em minhas veias dilui-se no nada

enquanto a coragem me escapa entre os dedos
a verdade se encolhe, outra vez, com medo
do sol que se arrisca a contornar as persianas
e tocar febrilmente meu corpo na cama

e eu fico aqui nessa ereção inútil
no desejo fútil de que essa luz fosse tua
e que o calor que me sobe a cabeça
fosse o atrito quente da tua pele nua

sexta-feira, 12 de junho de 2015

NOTAS, DEPOIS CARTAS

ana
o gato preto passou
embaixo da escada
e derrubou o seu espelho favorito

ana
murcharam as flores de plástico
que não fingimos regar

ana
sua psicóloga ligou
e me pediu uma pizza
ainda não sei
quem pensa que sou

ana
afogaram os mafagafos
que não afagamos
antes de morrerem
gorfaram figos

ana
ainda faltam alguns meses
até nascer nosso messias

ana
você tem sido tão mono
tão morna
mamona

ana
vasculhei o lixo do vizinho
encontrei uma calcinha sua
e uma lixa de unha

ana
ganhei no jogo do bicho
com seu bilhete
cobra

ana
primeiro beija, depois morde
sempre nessa ordem

ana
fiz as somas
todas as contas
dão exatos
R$1386,76

ana
perdi meu passaporte
ou você o levou?

ana
na páscoa alguém comeu
meus ovos
e do coelho só deixou
os ossos

ana
venho te observado a distância segura
entre a placa de "keep out"
(que impede as ondas de chegarem à praia)
e os limites da sua sertralina

ana
segui seus conselhos
não pulo mais cercas
nem procuro minhas veias no escuro

ana
a tecnologia é incrível
não preciso mais carregar o celular que comi

ana
quem te fez tão malcriada?
nossos melhores amigos faleceram
três ratos brancos tristes
você nem ligou aos prantos

ana
passei duas noites com sua irmã, amanda
mas não se preocupe
ela só me deu na segunda
(pelo jeito aqui ninguém dorme
sem o eco dos seus gritos)

ana
venho tendo aulas de flauta
quero fazê-la dançar
ao sopro do meu desespero

MEMÓRIA

meu professor de inglês do fundamental
a cara do liam neeson
rasgou meu trabalho
"describe your room"
[que fiz a mão]
sem nenhuma hesitação
com olhar de quem ia
kick my ass 
               - in hindsight
podia ser ele

sábado, 6 de junho de 2015

SUSTO

já coloquei a brasa de volta no lugar

já consertei o copo
(que caiu quando você virou e estapeou)
meu cigarro
fogo é tão engraçado
desprende, voa
mas se lado a lado puxar o ar
crepita

nãnãnãnãnãnãnãnã nãnãnãnãnãnãnãnã BATCAT

meu gato tem orelhas de morcego
dorme de ponta cabeça penduricado no lustre da sala
exatas 14 horas por dia
e todas as noites corta a redinha da varanda com suas garras

meu gato treinou artes marciais com os maiores mestres do mundo
e todas as noites sai para arranhar os super-vilões de San Paolo City
arranhou o pinguim que não construiu casas
arranhou o charada que acabou com a água
arranhou o duas-caras que prometeu e cumpriu metade (mas o que a gente esperava?)
arranhou o coringa disfarçado de charada que num plot-twist manjado mandou a polícia sentar a porrada
e arranhou a mulher gato que não fez nada mas você já viu dois gatos se encontrando?

meu gato volta pra casa

meu gato é um playboy milionário com o potinho cheio de comida e que caga na mais fina areia
doa metade dos seus biscoitos para o greenpeace salvar as sereias
assiste meio horário eleitoral e vomita bolas de pelo nas redes sociais
que saibam ninguém nunca matou seus pais
meu gato quer, vai lá e faz

SINAIS

espalhei copos pela casa
com medo de uma invasão
contendo coisas malucas
                brinquedos do mcdonalds
                cadernos do pato donald
                uma peruca, algumas bitucas
                restos de dunkin donnuts
                líquidos embaçados
papéis amassados
                contendo rasgos
                contendo histórias
                contando contos
                contando causos
para eventualmente quebrar com tacos

espalhei corpos pela casa
esperando você voltar
esperando você achar
que aqui nada se faz
sem sua super-visão
              vê que eu trabalho dia e noite para alimentar todos os gatos que a gente não quis                                                                                              colocar para adoção (eu sempre avisei)
              vê que eu trabalho dia e noite para apagar da parede todas as pichações (eu avisei)
              vê que eu trabalho dia e noite para esquecer de quem é a culpa                   (eu)

espalhei copos pela casa
assim te recebo bem
um deles contém veneno
todos os outros também

NUNCA MAIS TÔ DE BÉM

perder um amigo querido
porque ele agora ama alguém
belém belém
belém, belém

olha só pro umbigo
vou matar o cupido
namorado à marido
ciúmes antigo
de ninguém
belém belém
belém, belém

estourar seus ouvidos
gritando: malditos!
sumir com seus filhos
e entregar lá pros homens de bem
belém belém
belém, belém

consolar a viúva de batom escarlate
sempre avisei que isso aí dava enfarte
chutei e cuspi e chorei e escrevi
na sua lápide
belém belém
belém, belém.

FICHA (in progress)

não te suporto na varanda
brasa entre os dedos
ar de fumaça
olhar de neblina fitando o nada
não te suporto pela manhã
remelando entre bocejos
me soprando teu bafo de ontem
exalando teus cheiros dormidos
como um fungo que propositalmente
me drena a paz e corrói os sentidos

não suporto tua boca rósea
aberta ou fechada
gritando calada
ou mordendo o que não deve
igualzinha a mãe

não te suporto metendo
dilacerando minhas costas
suando meu corpo
sujando minha rola
com esse fossa que chama de cu

então toma aqui um café pingado
esporrado em sua homenagem
você sempre gostou de creme