quarta-feira, 29 de julho de 2015

disseram que eu só sei falar mal das minas

namorei uma poetisa
impossível de parar
poetava o tempo todo
precisava nem de bar
era praça era viela
era beco era esquina
era madá era favela
entre os manos entre as minas
poetava para mim
e poetava para os outros
poetava quando queria
nunca ouvia desaforo
transformava sapo em príncipe
e decepava o vacilão
encantado é o caralho
queria revolução
mas cê já viu o trampo que dá
deixar poetisa feliz?
ela gozava dos meus lábios
gemendo "ó o verso que fiz"
e com uma mão guiava a minha
pra baixo rumo ao seu grelo
a boca no meu ouvido
arrepiando meus pelos
rimava cada suspiro
sem ter timidez alguma
escrevia em meu peito
rasgando a carne com as unhas
recitando entre os dentes
e a língua no meu pescoço
versos quentes como a ponta
do tridente do tinhoso
pois o inferno é até gostoso
em questão de temperatura
comparado com a pele
escaldante da criatura
que subindo as paredes
me fodia nas alturas
ca boceta e as palavras
que porventura misturava
com seus berros de prazer
convite prum duelo
que jamais consegui vencer
calcinha nos tornozelos
o cabelo bagunçado
o vestido já rasgando
e o batom todo borrado
me prendia com as coxas
me afogava em sua garganta
me deixava em fiapos
poetisa que não cansa
aproveitando minha fraqueza
num sorriso sem pudor
ela pedia para ouvir
uns poeminhas de amor
"pra me deixar satisfeita
você vai ter que rebolar
quer dizer, poetar"
menina de bom humor
gritava aos quatro ventos
"poemais, poemais"
e eu entrava de cabeça
"poemais, poemais"
 então fiz esse poema

quinta-feira, 16 de julho de 2015

todos os dias descobrem:

novo anel de saturno
novo microorganismo letal
novo planeta habitável
novo estilo musical
novo escândalo federal
novo new new new new 3DS
novo caso de polícia (ou de família)
novo serial killer (do bom senso)
novo entorpecente (esse é bom)
novo dedo do lula
novo cheiro nas unhas
novo celta 2015 com porta até embaixo
novo canal na tv (eu mesmo nunca vi todos)
novo conteúdo ilegal no seu hd
novo filho do mussum
novo craque no futebol de botão ou que seja
novo método científico de dar um passo atrás
novo motivo pessoal para não querer mais
novo pâncreas
novo signo
novo câncer
novo halls
novo bauhaus e eu odeio bauhaus a banda
novo segredo de aumento peniano dos caramoja de uganda
novo garoto propaganda
novo samba
novo creme dental
novo disco do michael jackson
novo fã do mc brinquedo (irônico ou não)
novo trevo de sei lá mil folhas
novo aumento
novo estrago
novo impávido colosso
novo osso
novo poço de petróleo dentro da sua casa
novo dinossauro com asa
novo dicionário do que tem graça ou não
novo pão com trigo geneticamente modificado
novo parente distante do corvo

novo
novo ovo
novo novo novo
novonovo
novo

ufa

todos dias eu me descubro
e só sinto frio

imagina a primeira pessoa que se ofendeu com dedo do meio que maluca

imagina o filho dela, careta
chato
não pode fazer nada
não pode mostrar o dedo, é feio
não pode coçar, é feio
não pode cutucar o nariz, é feio
não pode apontar, é feio
não pode dedar, é feio
pode nem se tocar, que é feio
até pensei que o problema fosse o dedo
mas o filha delo, careta
chato
não pode fazer nada
não pode pôr a língua pra fora, é feio
não pode arrotar, é feio
não pode falar alto, é feio
não pode brigar, é feio
não pode tirar a roupa, é feio
não pode encostar no outro, é feio
não pode beijar na boca, é feio
não pode chegar tarde, é feio
melhor nem sair na rua, é feio
não pode faltar à missa, é feio
não pode deixar o cabelo crescer, é feio
não pode errar o soletrando que é feio
ai dele se for vista com menina, é feio
e com menino pior, é muito feio
imagina a primeira pessoa que se ofendeu com dedo do meio que maluca
se fosse hoje
mostrava meu cu pra ela

terça-feira, 7 de julho de 2015

bonequinha inofensiva

você podia me beber
me derramar
me espalhar pelo teu corpo
sobre os peitos, sobre as coxas
e o teu sexo em chamas
e me acender em tuas chamas
me fumar, queimar inteiro
apagar-me no cinzeiro
da tua boca
tua garganta rouca
de gritar tão louca
de tanto me ter e meter

mas prefere me guardar em um potinho
eternamente indesejado
entre nós um tupperware

hoje é terça mas poderia muito bem ser sexta

hoje é sexta, dia de breja
dia de beijo
(dia de brejo?)

hoje é sexta de ficar sussex
de comprar jontex
e ficar só sex

hoje é sexta de suar na cama
ou se tiver com sono
dia de coma

hoje é sexta de peraí guenta um minuto
tô quase acabando
de mudar o mundo

hoje é sexta de esquecer de tudo
(inclusive deixei a carteira
no criado-mudo se alguém puder pagar a conta por favor)

hoje é sexta de ir na quermesse
de quer moça?, hmmmm quero moço
cremoso

hoje é sexta de logo anoitece
de "não, não se apresse
a gente (quase) não se conhece"

hoje é sexta de deitar na sarjeta
de que dia é hoje?
- senhor hoje é sexta

hoje é sexta de vai deixa
pra semana que vem
ninguém se importa com isso aí que cê faz mesmo

hoje é sexta de de se beber não case
cos brother go out
terminar num blecaute

hoje é sexta de meu deus como eu acabo esse poema?

hoje é sexta
amanhã também
ontem também
hoje é sexta
amém

beco do batman

também quero comer feijoada de calabresa com estrella galícia na mesa sem nunca me preocupar com a conta
também quero enfeitar as madeixas com flores de plástico penas de pássaro fazendo cosplay de tainá
também quero ser bem informada erudita letrada alfabetizada em políticas sociais nas redes
também quero ser artista inspirada designer de música erudita para cegos exposta em paredes
também quero colar naquele novo food druck do cachorro quente com mostarda importada do meu cu
também quero tirar foto chupando pirulito do adventure time que pinta a língua de azul
também quero abraçar pessoas novas que vieram de fora para conhecer o brasil no couch surfing
também quero um fusquinha daora 50tão coca-cola que faz drifts nas curvas da vida
também quero te chamar de querida
também quero fazer uma reclamação
também quero votar sim ou não
também quero conhecer o sertão
também quero ser tão
e ser tão
gratidão